domingo, 12 de maio de 2024

Reabertura do Hotel Central

Ao fim de várias décadas ao abandono e após vários anos de obras de restauro profundo o icónico Hotel Central reabriu portas no final do passado mês de Abril.


O recém-renovado Hotel Central dispõe de 114 quartos, o restaurante Palace e um rooftop com vista de 360 graus para o centro histórico da cidade. O edifício de 11 andares com quase um século – foi o primeiro arranha-céus da cidade e o primeiro edifício a ter elevador – foi um marco local durante décadas até ao encerramento na década de 1990.
Ao abandono durante vários anos seria comprado em 2016 pelo Lek Hang Group por 1,5 mil milhões de patacas. As negociações dirigidas pelo líder da empresa sediada em Macau, Simon Sio, começaram em 2009 e só ao fim de sete anos chegaram a bom porto. Foram precisos mais três anos para obter as devidas autorizações tendo as obras começado no final de 2019. Para devolver a antiga glória ao hotel foram gastos mais de 400 milhões de patacas.
A decoração dos quartos é inspirada no design dos anos 20, 30 e 40. No piso térreo uma pequena exposição evoca a história de um dos hotéis mais icónicos do território.
Anúncio de 1948

O hotel foi inaugurado a 22 de julho de 1928 como Hotel President. Tinha seis andares - o mais alto da cidade - e lá dentro até cinema havia... A música era apreciada no 6º andar onde ficava o Club Hou Heng, "o maior e mais atraente desta cidade", segundo um anúncio de 1931.
Anúncio de 1931

Mudou de proprietários em 1932 e os novos donos, Fuk Tak Iam e Kou Ho Neng, escolheram como nova designação de Grand Central Hotel, tendo vingado a versão mais simples de Central. Poucos anos depois os dois sócios ganharam a concessão exclusiva do jogo no território e a Tai Heng usou o espaço para ali instalar salas de jogo. O sucesso da operação levou à necessidade da expansão. Na mesma avenida surgira entretanto (1941) o Grand Hotel já com 9 andares e o Central pretendia ter 11. Chau Chi Fan foi o arquitecto chinês responsável pelo projecto do que viria a ser "o maior hotel de Macau".
Entre 1937 e 1945, durante a guerra sino-japonesa e a segunda guerra mundial, o hotel foi palco de inúmeros episódios, incluindo atentados à bomba.
Quando em 1961 os proprietários do Central perdem o monopólio do jogo para a STDM de Stanley Ho o casino teve de encerrar iniciando-se um período de declínio.
No pós-guerra Ian Flemming foi um dos hóspedes famosos do hotel. O autor de James Bond mencionaria o hotel Central na obra de 1963 Thrilling Cities onde pode ler-se: "Quanto mais alto se sobe mais bonitas e caras são as meninas, mais altas são as apostas nas mesas de jogo e melhor é a música".

sábado, 11 de maio de 2024

Recorde de visitantes em Abril último

Em Abril último - quando registei em Macau três das quatro imagens deste post - o blogue Macau Antigo registou a melhor marca de sempre em termos de visitantes com perto de 70 mil visualizações (68.392). Foi assim superado o anterior recorde de mais de 53 mil pageviews registado em Abril de 2015.
Armazém do Ópio visto da Praça de Ponte e Horta na década 1950/60
Em 2024
Em termos toponímicos o edifício está registado na Rua das Lorchas 
(a fachada do lado esquerdo nestas duas imagens)

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Testemunho de Irina, filha de George Smirnoff

"During the last year and a half of the Japanese occupation of Hong Kong during World War Two, my father, George Smirnoff, with some other Russian refugees, decided to move his family to the only safe place we could get to, the small neighbouring Portuguese colony of Macao.
As White Russians, we lived in a form of limbo during those years. We were stateless, and so were no-one’s responsibility. The Japanese categorised us – along with others, such as the numerous Portuguese born in Hong Kong, as “Third Nationals”. We were not Allied nationals – therefore liable to internment and at least some food and sustenance in the camps. Neither were we citizens of nations allied to Japan, such as Germany or Italy; nor were we Neutrals, like the Irish, the Swiss or the Swedish. White Russians in China existed in a diplomatic no-man’s-land in those years – the charge of no-one.
And as we were no-one’s concern, we had – somehow - to fend for ourselves as best we could. It was a very difficult time. We lived wherever we could – for a time even in the French Convent in Causeway Bay. After one of the American bombing raids over Hong Kong, when our house at Tsim Sha Tsui was destroyed, we finally had to leave. Macao was the only place we could go.
My father and I went first on the Hong Kong-Macao ferry; this was then a four hour journey. We arrived in Macao with virtually nothing, except what little we could carry with us. Some time later, my mother followed with her two other small children, my sister and brother. She also arrived in Macao with very little and had to give up her gold wedding band as a last minute bribe to get on the ferry before leaving Hong Kong.
Our first home in Macao was the lounge-dining room in the Bela Vista Hotel. Formerly one of Macao’s better hotels, beautifully situated on the foundations of an old fort overlooking the Praya Grande, the wartime Bela Vista was far from luxurious, but provided a welcome refuge.
Along with other places, like the Macao Club, the Bela Vista was used as accommodation for the hundreds – perhaps thousands – of refugees who came across from Hong Kong. All the children slept side by side on the floor, packed in like so many small sardines; it didn’t matter - we were all just so glad to be away from immediate danger.
My father sought lodgings for his family in the town and eventually found the top floor of a house in a courtyard known as Pátio de Seis Casas – “Courtyard of the Six Houses”, down a quiet back lane not far from one of Macao’s lovely old churches.
Having been asked over the years for biographical information about my father, I learnt that, in the main, he had experienced a terribly disrupted, unsatisfying life. My father George Smirnoff and Yul Brynner had both been born in the same city - Vladivostok, far eastern Russia – some ten years apart. Thereafter, their stories were so different.
Yul Brynner wound up in the United States as a stage and movie star, a very gifted performing artist and a household name in every country. After years of movement from danger, from Vladivostok to Harbin and on to Tsingtao, then to Hong Kong and Macao and back again to Hong Kong, our family trailing along with him, George Smirnoff was never able to leave China. After years of such a life he is buried in Hong Kong, ironically in Happy Valley.
The year and a half that we spent in Macao during World War Two was probably the most peaceful and rewarding period of George Smirnoff’s sad life. During that period we had nothing of any material substance. But our family was intact, the people of Macao were wonderful to us and generously gave all kinds of help and support, and we had food on the table every day.
My sister Nina and I attended school – the locally-famed Santa Rosa de Lima on the Praya Grande – and as far as those wartime circumstances allowed, we had a normal life. There was no motor transportation around Macao then - we went everywhere on foot. Everyone did – and we thought nothing of it. It was a happy time.
It was a happy time for my father, too, probably the most personally satisfying period in his short life. Dr. Pedro José Lobo, then one of Macao’s leading business and political figures, commissioned him to paint a series of views of the city as it then was. He was free to paint whatever he liked – churches, fortresses, seascapes and street views. By means of Dr. Lobo’s generous patronage, he was released for the first time from immediate financial cares. Father Albert Cooney, one of the teachers at the Salesian school near where we lived, provided some paints and a supply of paper - and a lasting friendship.
George Smirnoff could spend days sketching and painting or staring at scenes he would later depict on paper or board (there was no canvas) or just fishing and thinking. That dark period, with war always just over the horizon, was almost the only time in his life that my father was truly at peace with himself and his surroundings.
I also used to follow my father when he went on scouting trips for his watercolours. He would sit for a long time and stare at the muddy waters or at junks out in the channel or some angle of Macao hills and water from the Praya Grande which in those days was the road around the peninsula on a retaining wall and now, due to large amounts of reclamation is far inland. It was peaceful and relaxing. For once, after all our lives in China, war and disorder hadn’t followed us. After our rambles around the city we would go home, and later that night he would sketch and colour what he had seen earlier that day from memory. If you matched what he painted to the real setting, it was almost like a photograph. I thought that was how every artist and watercolourist worked.
Testemunho de Irina/Irena Smirnoff, filha de George Smirnoff (1903-1947), escrito em 2016.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Hotel e Casa de Penhores na Travessa das Virtudes

Remonta à década de 1920 o edifício em primeiro plano, tendo servido como hospedaria e hotel. Primeiro com a designação Hou Kiang e mas tarde sob o nome Hotel Macau (décadas 60 a 80). No início do século 21 foi remodelado passando a adoptar o nome Hotel Hou Kong.
O hotel fica no nº 1 da Travessa das Virtudes (Porto Interior). Na imagem acima ainda pode ver-se a Casa de Penhores Ian Cheong, no nº 3 da mesma travessa. A torre prestamista já não existe como se comprova na imagem do século 21 abaixo.

A torre de sete pisos remonta à Dinastia Qing. Estava registada deste 1976 como património classificado e foi incluída na lista de relíquias culturais do território em 1992. Um incêndio às primeiras horas de 31 de Agosto de 2000 alcançou o telhado e provocou enormes estragos. As autoridades concluíram que não podia ser recuperado e a estrutura foi demolida.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Major exhibition of China coast paintings from 18th and 19th centuries

Com recurso aos acervos de museus de Macau, Hong Kong e Guangdong o Museu de Arte de Macau (MAM) exibe de 10 de Maio a 15 de Setembro do corrente ano cerca de 300 obras de arte de representações das cidades costeiras do Sul da China produzidas durante os séculos 18 e 19 por artistas chineses e estrangeiros.
Intitulada "Focus: Integration of Art between China and the West in the 18th-19th Centuries", a mostra pretende assinalar o 250º aniversário do nascimento do pintor inglês George Chinnery, cuja vida e actividade está intimamente ligada a Macau, local onde viveu entre 1825 e 1852, ano em que morreu.
Segundo a organização do evento algumas das obras de arte - óleos, aguarelas, desenhos, guaches, etc... - são exibidas pela primeira vez em Macau.
Igreja de S. Domingos, Macau / St. Dominic’s Church, Macao
William Prinsep (1794–1874)
Aguarela sobre papel/Watercolour on paper ca.1850, MAM

Some 300 pieces from the collections of the Guangdong Museum, Hong Kong Museum of Art and museums in Macao are going on display at Macao Museum of Art (MAM) from 10 May until 15 September.
Entitled "Focus: Integration of Art between China and the West in the 18th-19th Centuries", the show happens on the 250th anniversary of George Chinnery’s birth, and features a large number of works by the artist, closely connected to Macao where he lived from 1825 to 1852, when he died. According to the organization some works of art - oil paintings, watercolours, gouache, sketches, etc. - are being displayed in Macau for the first time.
Auto-retrato de George Chinnery (cópia)/Self-Portrait of George Chinnery (copy) 
Autoria atribuída a Lamqua 
(attri.) - act. 1825-1860
Óleo sobre tela/Oil on canvas ca.1850
Museu de Arte de Hong Kong/Hong Kong Museum of Art

Transporte de chá em Cantão / Transporting Tea at Canton 
Autoria atribuída a Tingqua (attri.)
Aguarela sobre papel de arroz/ Watercolour on pith paper / ca.1855
Espólio do Museu de Guangdong / Collection of Guangdong Museum

terça-feira, 7 de maio de 2024

30 anos após a morte de Herculano Estorninho

No passado mês de Abril assinalaram-se os 30 anos passados sobre a morte do pintor macaense Herculano Estorninho.
Herculano Hugo Gonçalves Estorninho nasceu em Macau, na freguesia da Sé, a 1 de Abril de 1921. Frequentou o Seminário S. José e depois o Liceu Nacional Infante D. Henrique onde foi aluno de Fernando Lara Reis, Bordalo Borges e António de Santa Clara que lhe deram os primeiros ensinamentos sobre arte. 
Começou ainda jovem a pintar aguarelas na companhia de Luís Demée. Prosseguiu os estudos com Brigite Reinhart no Colégio de Belas-Artes de Macau e depois com Frederic Joss no Instituto de Arte Aplicada de Viena de Áustria. Em 1962 com um grupo de artistas de Macau fundou o Grupo Arco-Iris. Um ano depois realizou a sua primeira exposição em Macau.
Trabalhou durante quase 20 anos no Observatório Meteorológico antes de seguir para Timor onde viveu algum tempo e teve actividade política. De regresso a Macau ingressou na administração do Hotel Lisboa e no Hotel Sintra, onde esteve até 1993. Morreu em Hong Kong a 30 de Abril de 1994.
Os seus trabalhos (óleos e aguarelas) estão em colecções particulares e institucionais em  países como Portugal, França, Itália Suécia, Áustria, Macau, Hong Kong, China, Japão, Estados Unidos, Brasil, Angola e Moçambique.
Mostra em Portugal em 1971 - Quinzena de Macau em Lisboa


Obras de Estorninho em emissões filatélicas dos CTT de Macau

Num catálogo de uma exposição realizada m 1991 pode ler-se:
Herculano Estorninho foi um homem multifacetado de grande sensibilidade estética e de bom-senso, aliado da sua frontalidade, sentido de político, de justiça, e humanidade, fizeram dele uma pessoa ímpar, procurado, considerado e estimado!
Nesta exposição “Macau e Timor em Aguarelas – Retrospectiva 1951-1991, promovida pela Associação dos Antigos Alunos do Liceu N.I.D.H. de Macau, foi a penúltima do artista para posteriormente, em ’92, vir a realizar uma outra na Missão de Macau em Lisboa!
Antes expôs “exaustivamente”, com a realização de um total de 7 mostras em ’82; ’83; ’85; (’87 2x) e (’88 2x), desde Macau, Pequim, Xangai, Lisboa, e Porto!
Aliás, outras exposições anteriores que tiveram o seu início nos anos ’60, onde a partir de ’63, Herculano Estorninho se expôs pela primeira vez uma mostra juntamente com Frederick Joss e Tam Tsing Teung, no Leal Senado! Bem como nos 3 anos seguintes, e em 2 consecutivos, Herculano Estorninho expôs em várias galerias de Hong Kong!
Assim como nos anos 70 as pinturas de Herculano Estorninho percorreram de lés a lés por várias salas de exposições, a começar em ’73, por duas mostras, primeiro em Macau, e depois no Palácio Foz, Portugal Enquanto que em ’76 decorreram no mesmo ano, três exposições, sendo uma vez no Leal Senado, com Kwok Se e Lam Wai Long, e outras duas, individualmente no Museu Luís de Camões, e uma última na capital Díli, Timor!"

Personalidade multifacetada, Herculano Estorninho teve alguma actividade política em Macau e Timor e esteve também ligado à imprensa macaense, nomeadamente ao surgimento do jornal O Clarim (1948) e também ao Ponto Final (1991).
Capa do livro "Herculano Estorninho, Aspectos da sua vida e obra"

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Edição em livro sobre o II Raide Macau-Lisboa de 1990

"Foi finalmente editado o livro que recorda o II Raide Macau-Lisboa de 1990, uma viagem protagonizada por dez amantes do todo-o-terreno e aventura que decidiram fazer um percurso terrestre entre Macau e Lisboa, atravessando vários países da Ásia e Europa, apenas com jipes. A obra, que começou a ser preparada em 2021, tem 300 páginas escritas e traduzidas em quatro línguas. 
A edição está a cargo da Tentáculo, de Lisboa, estando previsto um lançamento também em Macau, ainda não confirmado. Segundo disse ao HM Joaquim Correia, um dos tripulantes do Raide e co-mentor deste livro, esta obra tem algumas alterações face ao projecto inicial, incluindo mais fotografias e textos, alguns deles de Joaquim Magalhães de Castro, autor, cronista de viagens e investigador independente sobre a presença portuguesa no sudeste asiático. Além disso, o livro conta com posfácio do jornalista João Figueira, que viveu em Macau entre 1988 e 1992. O texto, divulgado na página oficial de Facebook sobre o livro, tem como título “A teimosia dos 10 gloriosos ‘malucos’ de todo-o-terreno’”, grupo que “inscreveu na história das grandes viagens de todo-o-terreno uma epopeia de 50 dias, desde Macau a Lisboa”. Em 1990, este grupo percorreu 22 mil quilómetros entre a Ásia e Europa, tendo atravessado dois desertos e convivido “com as manifestações que então animavam Moscovo no tempo da Perestroika”. Os tripulantes tiveram ainda de aguentar “temperaturas próximas dos 50 graus”. “Ter vencido esses entraves foi o primeiro sinal à navegação de que aquele grupo não desistia facilmente, era mais do género quebrar que torcer. Se havia loucura no empreendimento, este precisava de uma teimosia de aço bem temperado para ser bem-sucedido», recorda João Figueira no posfácio.
Do texto à BD 
A edição desta obra foi sendo sucessivamente adiada devido à pandemia. Contudo, esta viagem já deu origem a um livro de banda desenhada, “II Raide Macau- -Lisboa: Da China a Portugal pela Rota Proibida”, entretanto lançado com o apoio da Fundação Oriente. A viagem do II Raide, realizada dois anos depois do I Raide, partiu do Jardim Camões a 27 de Julho de 1990, tendo terminado a 13 de Setembro desse ano na Torre de Belém em Lisboa. Foram percorridos quase 22 mil quilómetros a uma velocidade média de condução de cerca de 55 quilómetros por hora. O II Raide Macau-Lisboa pretendeu ser “um abraço entre culturas”, integrado nas comemorações dos 500 anos dos Descobrimentos portugueses. Além de Joaquim Correia, então bibliotecário na Universidade de Macau, a viagem foi feita por Mário Sin, ex-presidente do Automóvel Clube de Macau; António Calado, então técnico do Instituto de Desportos de Macau e posteriormente dos Serviços de Educação; Fernando Silva, médico; e António Teixeira, mecânico do Grande Prémio de Macau."
Artigo de A.S.S. publicado no Hoje Macau a 30 .4.2024

domingo, 5 de maio de 2024

A Praia Grande vista do terraço do Convento de S. Francisco

Desconhece-se o autor desta obra- aguarela de 35x52cm - datado do final do século 18. Em alguns catálogos surge com a legenda "Macau visto do terraço da igreja de S. Lourenço" mas não é. 
Trata-se de uma vista da Praia Grande a partir do terraço do convento e igreja de S. Francisco. A perspectiva é feita de forma tão recuada que não capta uma representação habitual nestes quadros, a fachada da igreja Mater Dei (vulgo Ruínas de S. Paulo) que nesta altura ainda não tinha sido destruída.

Pormenor do quadro com destaque para o cruzeiro que existia junto à entrada para a igreja.
A cruz é o elemento simbólico do cristianismo. Sendo o seu elemento mais universal assinala o sagrado sobre o profano.
Figuras humanas representadas em primeiro plano: freiras (provavelmente do Convento de Sta. Slara) e monges franciscanos.

O quadro tem algumas semelhanças com outro, também do final do século 18, da autoria de Gaspard Duché de Vancy que fez parte da expedição de La Perouse - gravura incluída na obra Voyage de La Pérouse autour du monde publicada em 1798 com a legenda Vue de Macao en Chine (imagem abaixo). Vancy esteve em Macau nos primeiro dias de Janeiro de 1787.

Refira-se que todos os membros da expedição desapareceram sem deixar rasto em 1788 e os registos que fizeram só chegaram até aos dias de hoje porque no Outono de 1787 o comandante da expedição decidiu enviar o material recolhido para França quando estava em escala em Petrapavlovsk.

Detalhe do casario ao longo da Praia Grande e (em abaixo) pormenor da Fortaleza do Bom Parto e a muralha até à ermida da Penha.

sábado, 4 de maio de 2024

Cinema Apollo: 1959

Esta foto de 1959 documenta a estreia do filme "Around the world in 80 days" no cinema Apollo (Av. Almeida Ribeiro junto ao Largo do Senado). Nos EUA estreou em 1956. Trata-se da adaptação cinematográfica do romance de Julio Verne sobre um inglês do século 19 que aposta ser capaz de dar a volta ao mundo em oitenta dias. 
Macau surge no capítulo 19 do livro editado em 1876:
"Hong Kong is an island which came into the possession of the English by the treaty of Nankin after the war of 1842 and the colonizing genius of the English has created upon it an important city and an excellent port. The island is situated at the mouth of the Canton River and is separated by about sixty miles from the Portuguese town of Macao on the opposite coast. Hong Kong has beaten Macao in the struggle for the Chinese trade and now the greater part of the transportation of Chinese goods finds its depôt at the former place."
Curiosidade: A mini série com o mesmo nome, da década de 1980, foi filmada em parte em Macau (Hotel Bela Vista).
Macau tinha no final da década de 1950 um total de 10 salas de cinema com capacidade para 7500 espectadores. No início da década de 1950 tinha 6 com capacidade para 4800 espectadores.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Plan de la Rade de Macao

Plan de la rade de Macao (chine) Levé d'après les ordres mr. Rocquemaurel
Este "Mapa do Porto de Macau elaborado segundo ordens de Mr. Rocquemaurel" foi publicado em França no final da década 1850. Trata-se de um mapa/carta náutica muito detalhado de Macau e de várias ilhas vizinhas onde se inclui dados sobre sondagens de profundidade essenciais à navegação marítima. 
O capitão Gaston de Rocquemaurel era o vice comandante da expedição de Dumont d'Urville realizada entre 1837 e 1840 e o comandante da da corveta "la Capricieuse" que andou pelo oriente entre 1851 e 1854. Oficialmente, tratava-se de uma missão política à China, mas Rocquemaurel também desempenhou tarefas com fins científicos. Explorou partes desconhecidas do Mar do Japão, fez o reconhecimento das costas da Indochina e, seguindo a rota de Lapérouse ao longo das costas da Coreia e Kamchatka, preencheu algumas das últimas áreas inexploradas nos mapas do século XVIII.

quinta-feira, 2 de maio de 2024

"Novo Teatro de Macau"

Corria o ano de 1919 quando abriu portas o Novo Teatro de Macau também conhecido pelo nome New Macao Theatre. O nome pode induzir em erro mas era um cinema (animatógrafo), numa época em que esta oferta cultural tinha muita procura e sucediam-se as aberturas de salas de exibição de filmes. Já existia ano território, por exemplo, o cinematógrafo Vitória que começou por funcionar num "pavilhão", infraestrutura pouco sólida que tufão em 1909 deitou abaixo.
Anúncio de 1919

O Novo Teatro de Macau - inaugurado em Outubro de 1919 - ficava no nº 34 da Rua de S. Domingos e era uma iniciativa comercial do chinês Knam Iec Chao, na altura gerente do New Macao Hotel. Este novo espaço de cinema surgiu no mesmo edifício onde existira antes um outro animatógrafo, o Olimpia.
O Novo Teatro de Macau funcionou durante apenas um ano vindo a encerrar em Outubro de 1920 "por não poder arcar com as despesas da exploração", noticia o jornal O Macaense a 3.10.1920 adiante que por igual motivo o cinematógrafo Vitória passava a ser "explorado por uma nova empresa". Em 1922 surgiu na Rua do Hospital o Animatógrafo Macau, uma iniciativa do empresário local Filipe Hung.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

O Palacete de Manuel Pereira

O palacete numa pintura ca. 1840
Ilustração do final do século 19 destacando-se o edifício de dois pisos: Casa Garden

O palacete de Manuel Pereira remonta à segunda metade do século 18 (1770) embora não tenha sido o conselheiro que o edificou. 
Ficava numa propriedade que pertencia à Companhia de Jesus e após a expulsão da ordens religiosas terá passado para a posse do Leal Senado. Manuel/Manoel Pereira, comerciante português abastado que chegou a Macau por volta de 1780 comprou a propriedade cerca de 1815 e morreria onze anos depois. Seria a filha Maria Ana Josefa Cortela Pereira que viria a usufruir do espaço depois de casar com um primo, Lourenço Caetano Marques. Desse período ficaram para a história alguns dos mui ilustres hóspedes do casal: desde o presidente Grant, dos EUA, ao duque de Alançon (herdeiro do rei de França), passando pelo príncipe do Sião, vários governadores de Hong-Kong e Lord George Macartney, durante a sua embaixada à China (1792-94). 
A propridade albergou ainda a Select Committee da Companhia das Índias (por arrendamento), ou seja, os representantes máximos da empresa britânica no comércio a Oriente, nomeadamente com a China, onde não podiam residir em permanência, daí a opção por arrendar habitações em Macau.
Antes e depois das obras ca. 1900
Em 1885 o governador Thomaz Rosa comprou por 35.000 patacas a Lourenço Marques e sua esposa, D. Maria Pereira Marques, a propriedade urbana e rústica denominada Gruta de Camões e que incluía o edifício denominado Casa Garden.
Detalhe de um mapa de 1889: "Jardim Gruta de Camões - Depósito de Material de Guerra"

Desde que passou para a posse do governo o palacete - foi remodelado por volta de 1900 e 'perdeu' o primeiro andar - teve várias utilizações: foi depósito de armas e munições (material de guerra), já na década 1980 albergou o Museu de Luís de Camões durante mais de duas décadas e desde 1989 foi adquirido pela Fundação Oriente que li mantém a sede local da instituição.
Foto de John Thomson ca. 1870

O primeiro busto de Camões ali colocado remonta aos primeiros anos do século 19, feito em grés. Em 1840 foi colocado um segundo busto por ordem do comendador Lourenço Marques; o de bronze. Em 1866 é inaugurado outro, feito em bronze, por Bordalo Pinheiro. É o que ainda hoje existe na Gruta de Camões.

terça-feira, 30 de abril de 2024

Corveta Estefânea

Este guache sobre papel é assinado por A. J. Pinto Basto e tem como legenda "Estefânea - Corveta saindo de Macau, 1885".
Trata-se do Capitão de fragata António Aluísio Jervis de Atouguia Ferreira Pinto Basto (1862- 1946), oficial da armada, amigo de infância do rei D. Carlos I (aprendeu a pintar com o mesmo mestre, o pintor aguarelista espanhol Enrique Casanova), de quem ajudante de campo e do seu sucessor, D. Manuel I. 
Terceiro visconde de Atouguia era também monárquico e quando se deu a implantação da República em Outubro de 1910, comandava o cruzador S. Gabriel numa viagem de circum-navegação. Ao chegar a Portugal pediu a demissão da marinha e foi para a Empresa Nacional da Navegação onde esteve até à reforma.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

"Macao (Possession Portugaise) Le Port

"Verascope Richard -Chine- Macao (Possession portugaise) - Le Port - Séchage du poisson".
"Verascope Richard - China - Macau (possessão portuguesa) - O Porto - Secagem de peixe"
A secagem do peixe no final do século 19 no Porto interior - ao fundo a ilha da Lapa - é o motivo desta imagem estereoscópica. Desta colecção - Verascope Richard - há ainda registos de Pequim e Hong Kong.

As primeiras máquinas fotográficas estereoscópicas foram construídas em 1849 recorrendo a um método sobretudo artesanal. Para obter as imagens tinha de se preparar no local uma emulsão que depois era espalhada em placas de vidro. Admite-se que a primeira máquina fotográfica estéreo compacta disponível comercialmente foi a Vérascope de Jules Richard (1848-1930) em 1893. Tinha uma placa de vidro no formato 45 × 107 mm, mais pequena que os formato até então existentes. O preço mais acessível permitiu que muitos amadores apaixonados pela fotografia pudessem comprar a sua própria câmera fotográfica. Já no último quartel do século 19 estas câmeras começam a ser produzidas em massa e as fotografias obtidas eram impressas em cartões que eram reproduzidos de forma massiva e depois podiam ser vistas em mecanismos próprios para o efeito.

Nota: Esta imagem foi muito provavelmente feita por Alfred Garrez, autor do livro "Au pays des pagodes, notes de voyage: Hongkong, Macao, Shanghai, Le Houpé, Le Hounan, Le Kouei-Tcheou" editado em Shangai em 1900. Ele passou por Macau em 1898 e no livro refere que levava consigo uma máquina fotográfica Vérascope tendo tirado milhares de fotografias na viagem.
Mais um 'stereo' da mesma época e também de uma cena marítima em Macau com a legenda "Macao - Le Port"